31 de agosto de 2015

Brasileiras na Finlândia

Assim como eu, muitas brasileiras desgarradas deixam suas cidades e países para tentar a vida em outro lugar. A nossa querida Lidi também faz parte desse número de guerreiras que se mudou da cidade natal.

Seja por realização profissional ou por amor mesmo, o fato é que todas nós temos algo em comum: a garra e a vontade de fazer tudo dar certo.

Esse mês de agosto eu completo um ano aqui na Finlândia. Um ciclo completo. Primavera, verão, outono, inverno. 365 dias. 12 meses. Passei por muita coisa por aqui, risos, choros, tombos, frio e a maioria eu dividi com vocês.


Então, para comemorar esse marco, entrevistei três brasileiras que moram aqui nestas frias terras e hoje vou compartilhar a história delas com vocês. Fiz quatro perguntas iguais para cada uma delas e as respostas são emocionantes.



Fabiane Laube


Fabiane Laube, 30 e poucos anos, Belo Horizonte, há 15 anos morando na Finlândia. Divorciada, sem filhos


*Porque veio para Finlândia ou como veio parar aqui? E porque escolheu Finlândia?
“Meu coracão foi quem a princípio escolheu a Finlândia. Conheci meu ex-marido nos EUA, que é finlandês, quando eu estava estudando na Universidade do Texas e ele fazendo estágio de trabalho. 

Nos apaixonamos e resolvi me mudar pra Finlândia caso passasse na Universidade de Helsinki para poder continuar os meus estudos da Língua Inglesa... Seis anos mais tarde fui eu quem escolhi ficar:  pedi o divórcio e sai do casamento com praticamente a roupa do corpo. Eu tinha minha pequena empresa de dar aulas de inglês para crianças e foi aí que arregacei as mangas e lutei sozinha pra conseguir me manter aqui.

Hoje minha empresa, a 4Kids Kielikerhot Oy (clubes de língua para crianças - www.facebook.com/4kidsclub) ajuda por volta de 500 crianças finlandesas por ano a aprender o básico do Inglês. Para mim é um orgulho não só conseguir me manter aqui, mas também poder oferecer emprego para outros finlandeses ou estrangeiros.

Acredito que todo mundo tem um missão aqui na terra: a minha é de alegrar crianças no processo ensinar pra elas inglês que é uma das línguas mais importantes do mundo, principalmente no campo profissional.”


*Como foi chegar em um país desconhecido para a maioria dos brasileiros?
“Eu cheguei na Finlândia em maio de 2000. Me apaixonei pelo país assim que pisei aqui: que lugar limpo, lindo, tudo funciona, as flores no verão, as florestas e suas frutinhas silvestres, lagos, e cogumelos, a sauna, o salmão, a água que é a mais fresca do mundo, que maravilha!

Claro que tive um período difícil que durou uns 2-3 anos: o fato da língua ser tão difícil de aprender, as pessoas serem mais reservadas e o silêncio, dificultaram um pouco a minha adaptação, mas quando finalmente entendi que simplesmente as culturas finlandesa  e brasileiras são diferentes uma da outra, aprendi a apreciar as coisas boas das duas culturas, ao invés de focar apenas no negativo.

Acho que qualquer pessoa que vive aqui por pelo menos dez anos, virá um fã incondicional da Finlândia: dá valor a coisas como a segurança pessoal, a vida mais simples, mas com mais qualidade e até o silêncio a gente aprende a apreciar!”



*Hoje, você pensa em voltar para o Brasil? E daqui alguns anos?
“Eu amo o Brasil porque é o país onde nasci e dou graças a Deus de ter nascido de uma família humilde, onde meus pais me ensinaram a lutar pelas coisas na vida,apreciar as pequenas coisas, e trabalharam duro para nos dar uma educação de qualidade pra que eu e minha irmã tivéssemos um futuro melhor. Mas infelizmente tirando minha família, os amigos, a comida e o clima, eu não gostaria de morar no Brasil novamente. Essa decisão tomei quando presenciei um assassinato na porta da nossa casa no Brasil estando de férias na casa dos meus pais. Foi ali que mais uma vez percebi como que a segurança pessoal é uma das coisas mais importantes na vida e não quero nunca viver nu lugar onde terei medo de sair de casa ou de dormir sabendo que algo ruim poderia acontecer comigo ou com as pessoas que amo.”



*Um sonho
“Meu sonho é poder ver minha família com mais frequência e que o Brasil foque em educação para que o país realmente possa ter uma melhora, pois sem a educação, país nenhum se desenvolve.
Cantar também é minha outra paixão e eu tinha o sonho de cantar no programa The Voice of Finland. Esse sonho se tornou realidade no ano passado e foi uma experiência fantástica ser treinada pela Tarja Turunen, ex-vocalista do Nightwish, que é uma das Finlandesas que mais admiro. Aqui vão uns clipes da minha participacão no programa








Gisele Nogueira



Gisele Nogueira, 30 e poucos anos, São Paulo, há quase 5 anos na Finlândia.

Solteira, sem filhos


*Porque veio para Finlândia ou como veio parar aqui? E porque escolheu Finlândia?
“Por causa do trabalho. Eu trabalhava no escritório da Nokia em São Paulo e me candidatei para uma vaga global e fui escolhida. A vaga era na Finlândia.”


*Como foi chegar em um país desconhecido para a maioria dos brasileiros?
“Por conta do trabalho, já conhecia alguns brasileiros que moravam aqui e eles me ajudaram no começo, mas foi uma grande choque cultural.

Lembro que a única coisa de casa que comprei sozinha foi a televisão e tive que pedir ajuda para carrega-la até em casa. Aqui eles entregam as coisas na sua mão e tchau, bem diferente dos serviços de entrega em casa no Brasil.”


*Hoje, você pensa em voltar para o Brasil? E daqui alguns anos?
“Nos meses mais críticos de frio - Novembro a Fevereiro - sempre penso em voltar para o Brasil :) mas, sinceramente, ainda não tenho planos.

A Finlândia é um exemplo: tudo muito organizado, limpo e muito seguro. É incrível a oportunidade de andar a qualquer hora do dia e qualquer lugar sem ter a sombra da violência, sem medo.”


*Um sonho
“Que o Brasil se torne um país melhor. Morando na Finlândia aprendi que os impostos são ótimos se realmente forem revertidos para a população. Aqui temos bons ônibus, boas estradas, ruas, escolas e hospital público. Fora senso de igualdade aqui, todas as pessoas tem as mesmas oportunidades.”


Selma Greus e o marido, Ari
Selma Greus,  40 e poucos anos, Mogi das Cruzes, São Paulo, há 23 anos na Finlândia.
Casada, dona de casa, três filhas


*Porque veio para Finlândia ou como veio parar aqui? E porque escolheu Finlândia?
“Conheci o Ari em Mogi, e aquela velha história, nos apaixonamos e cá estou eu... Rs... Eu conheci o Ari porque a minha prima estava indo com ele para um show do Éric Claptom em São Paulo, mas depois de um mês ele voltou para a Finlândia. Alguns meses depois ele voltou para o Brasil para  terminar o trabalho de graduação e então ele entrou em contato e a gente começou a sair.

No começo a gente sabia que iria ser só por 4-5 meses mais depois que ele veio embora a gente começou a escrever cartas, e toda semana chegava de uma a três cartas, agora quem namora a distância tem a facilidade da internet, com Skype, WhatsApp etc e tal mais na minha época (tão vendo como estou ficando velha, parece a minha vó falando) era tudo escrito a mão e mandado pelo correio e demorava mais ou menos uma semana para chegar a carta...”


*Como foi chegar em um país desconhecido para a maioria dos brasileiros?
Como vim praticamente sem planejar direito, porque eu e o Ari resolvemos nos casar depois de estarmos "namorando" (via cartas a maior parte) depois de um ano que nos conhecemos, em um mês, os papéis para o casório sairam, nos casamos e vim para cá.

Cheguei no mês de maio, então não senti tanto o choque e o irmão do Ari tinha uma namorada espanhola é vários amigos estrangeiros inclusive uma brasileira que moravam em Oulu (uma cidade norte da Finlândia), então tudo isso me ajudou na adaptação e a não sentir o choque térmico do inverno. A saudade da família no começo foi muito forte, mas depois vai passando

Hoje sou dona de casa, mas fiz  faculdade de Relações Públicas em Mogi. Depois que cheguei na Finlândia, fiz dois cursos de finlandês através do työvoimatoimisto (um centro do governo que oferece curso de finlandês ao estrangeiros). Depois de algum tempo, por conta do trabalho, nós nos mudamos o Japão e ficamos lá cinco anos. Em todos os trabalhos dele, ele trabalhava até tarde e viajava muito, então era melhor ficar em casa cuidando das crianças.


*Hoje, você pensa em voltar para o Brasil? E daqui alguns anos?
“Não penso em voltar ao Brasil e nunca pensei. Depois de alguns anos aqui, o Ari quis voltar mais eu não e depois da primeira filha ainda, ai que não queria mesmo. A criminalidade de lá ainda é muito grande e você anda sempre olhando por cima dos ombro e com criança ainda os cuidados tem que ser triplicados.

Voltar ao Brasil daqui a alguns anos só se a criminalidade abaixar para um índice quase igual ao da Finlândia.”


*Um sonho
“Sonho com tantas coisas que é até difícil de todos se concretizarem... Mais o que eu mais gostaria que eu acho que ainda até poderia se concretizar se a situação da Finlândia melhorar, e ter a minha própria lojinha de sapatos do Brasil.”


Agradeço de coração o carinho e atenção das três em nos contar um pouco mais de suas vidas! 

Um comentário:

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